sábado, 24 de janeiro de 2009

teatro


venho de uma família de atores... é verdade!
Os Martinelli foram atores mambembes nos anos 30. Dizem que meu tio-avô, Romualdo Martinelli (tio Varanda) fazia teatro de marionetes quando criança e cobrava um palito de fósforo a entrada. Toda a "paga" ia prá ajudar minha bisnona na casa. Fósforo era um negócio caro e meu bisnono já tinha ido dessa prá melhor (tuberculose), portanto todos os filhos tinham que ajudar nas despesas da casa.
Meu nono era o mais velho e não pode dar vazão ao seu lado artístico. De qualquer forma teve um cassino e contratava artístas, entre eles o Cauby, prá fazer shows...
Já a tia Yole foi expulsa da igreja (era o que eles chamavam de "filha de José") pq o padre foi assistir a uma das peças onde ela interpretava uma mulher liberada, que chegava de Paris, usava calças compridas e fumava... ela tentou se explicar pro padre, disse que era apenas a personagem, mas não teve jeito. Ela ficou com o teatro, graças a Deus. Foi uma atriz que apareceu por acaso. A protagonista estava doente e a peça tinha que estrear, meu tio Varanda não teve dúvidas: Iole, você vai atuar... - Mas eu nunca pisei num palco!!! - sempre tem uma primeira vez...
E que atriz! Em comédia não tinha prá ninguém...
Tio Américo, tio Alcides, tio Fernando, tia Flora... todos atores. E cantavam bem prá caramba! A família vivia cantando... diziam que era só quebrar um copo e os Martinelli já achavam que era o tom da próxima música..
Eu era criança e lembro de tudo. Eles já estavam velhos, mas a alma da arte estava intocada. Não seguiram... fizeram outra coisa da vida... mas alí no fundo de suas almas a arte gritava com toda força.
Tio Varanda morreu alcoolatra. Ele não conseguiu se conformar com outra vida que não fosse a da arte. Não teve força prá lutar contra os padrões da época e começou a beber. Por causa da frustração.
Herdei todos os seus livros de teatro. Eles estão desmanchando, as capas amareladas, mas não me desfaço de nenhum deles.
Vou continuar esse assunto nessa semana.
Esse ano volto a fazer teatro. Preciso de vc, tio.

Nenhum comentário: